Repercussão

Polêmica envolve dissertação de aluno da Furg

A pesquisa sobre masculinidade foi criticada pelo vereador Carlos Bolsonaro na última semana; a universidade divulgou uma nota referente à manifestação da orientadora após a repercussão

Reprodução -

Uma dissertação de mestrado que trata sobre a busca de homens homossexuais por parceiros no aplicativo de relacionamentos Tinder virou polêmica depois que o vereador do Rio de Janeiro, Carlos Bolsonaro (PSL), postou uma foto da capa do trabalho em seu perfil no Twitter. A pesquisa foi feita por Diego Miranda Nunes, estudante do Programa de Pós-graduação em Geografia (PPGeo) do Instituto de Ciências Humanas e da Informação (ICHI) da Universidade Federal do Rio Grande (Furg) e orientada pela professora Susana Maria Veleda da Silva, que se manifestou através de uma nota de esclarecimento postada no site da instituição.

Intitulada "A produção das masculinidades e socioespacialidades de homens que buscam parceiros do mesmo sexo no aplicativo Tinder em Rio Grande-RS", apenas a capa contendo o título da dissertação foi exposta pelo filho do presidente Jair Bolsonaro (PSL) nas redes sociais, acompanhada da seguinte frase: "Meu Deus! Isso é uma *dissertação de mestrado! Este senhor recebeu dos cofres públicos, nos últimos 2 anos, uma bolsa de R$1.500, pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior. Nota-se porque o Brasil está no nível de educação que está. Tire suas conclusões!". O político criticou o fato de Diego receber tal quantia em dinheiro mensalmente da Capes, durante dois anos, para produzir a pesquisa.

Diego Miranda é formado em Geografia Licenciatura pela Furg. Atualmente, é bolsista do Núcleo de Análises Urbanas (NAU) e pesquisa sobre masculinidade, corpo, gênero e sexualidades. Contatado pela reportagem, o estudante optou por não comentar sobre o ocorrido até a defesa da sua dissertação, no dia 25 de fevereiro. Ele é aluno da professora Susana da Silva, responsável pela linha de pesquisa "Relações de Gênero na Geografia do Trabalho e da População". Na nota divulgada na segunda-feira, no site da universidade (https://www.furg.br/), ela repudia as manifestações feitas por Carlos Bolsonaro, que se configuram como assédio moral. Ela ressalta ainda que a produção será avaliada por uma banca qualificada academicamente. Apenas os docentes avaliadores - e o autor do trabalho - possuem o texto em sua versão integral. Portanto, o político não teria condições de criticar, uma vez que não teve acesso ao trabalho completo e ao seu conteúdo.

De acordo com a professora, "trata-se de uma pesquisa realizada com os rigores e rituais da produção científica reconhecidos não apenas em diversos campos do conhecimento nas academias dentro e fora do país, mas em ambientes extra campus". A dissertação busca estudar as diferentes dimensões e tensões da realidade, tanto na esfera offline quanto online, e entender o que isso representa. Susana explica que as categorias de análise como gênero e sexualidade estão incorporadas no repertório teórico e metodológico da Geografia há mais de três décadas. É ressaltada a ideia de que há uma grande diferença entre a ciência e o senso comum - este último responsável por criminalizar estudiosos que trouxeram grandes conquistas para a humanidade.

O PPGeo também postou uma nota em sua página a favor da autonomia e liberdade de escolha de tema de pesquisa dos estudantes. Segundo o grupo, criado em 2007, é inaceitável que uma dissertação que envolve relações homoafetivas e plataformas digitais receba críticas apenas por causa do seu título, "por pessoas que não detém qualificação profissional para este tipo de julgamento". A geografia já se apropria dos estudos de gênero, e o Programa da Furg coleciona publicações em revistas nacionais e internacionais, qualificadas e especializadas. "São diferentes abordagens relativas aos estudos de gênero que visam dar visibilidade e legitimidade a grupos que num passado foram marginalizados por nossa sociedade", afirmaram.

O que se espera é que a universidade garanta aos seus alunos e professores autonomia para decidirem os temas academicamente e cientificamente a serem pesquisados. Além disso, Foi reiterada a importância de promover um debate sobre estas questões. Existem regras no mundo acadêmico, então não se pode admitir que agentes externos à instituição tente impor uma espécie de censura. No fim da manifestação feita pela professora Susana Maria Veleda da Silva, ela deixa claro que a pesquisa feita por Diego Miranda Nunes "tem todas as condições de ser apresentada conforme os ritos acadêmicos de qualquer Instituição de Ensino Superior (IES) nacional e internacional" e como uma Dissertação de Mestrado em Geografia.

A dissertação
De acordo com o resumo do trabalho, Diego Nunes buscou investigar as masculinidades produzidas nos perfis de homens que buscam parceiros do mesmo sexo no Tinder. Para tanto, foi utilizado um formulário online feito no Google Forms, respondido por 154 homens. Uma das conclusões alcançadas mostra que a maioria dos usuários do aplicativo é de homens brancos, jovens, homossexuais e universitários.

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